a importância relativa do nada

O começo da dissertação podia ser um problema e, por isso, copiou uma frase da Alice no País das Maravilhas. Para lhe dar embalo.
Depois, ainda com o cigarro por acender, desligou os dois telemóveis e procurou o CD pretendido. Sempre o mesmo, sempre igual. Há coisas que se mantém para todo o sempre e, mesmo quem considere esta opção como algo compulsivo, a mulher não se rala nada com isso. A tese que terá de escrever é sobre o amor no século XIX, na literatura do século XIX, portanto é sobre um período que não viveu e, embora tenha lido e estudado, de momento preferia escrever outra coisa. Uma tese sobre o nada, por exemplo. Isso seria uma satisfação, as palavras teriam o condão de surgir sozinhas e a cabeça dela podia permanecer sem qualquer pensamento. O nada é relativo, a sua importância é extrema. Nessa tarde, a mulher não fez o que estava programado.
Fumou cigarros e ligou-se ao Twitter.

Patrícia Reis